O texto em uma perspectiva enunciativa de linguagem

Carmem Luci da Costa Silva (UFRGS)

Este trabalho se sustenta na ideia de que a capacidade simbólica é uma especificidade humana, base da significação e condição de integração do homem à linguagem. É justamente essa capacidade simbólica que possibilita ao indivíduo e à sociedade, juntos e por igual necessidade, fundarem-se em uma língua particular. Assim, parte-se do pressuposto de que os usos das modalidades falada e escrita de uma língua são faces aparentes da função simbólica no homem e, nesse sentido, a cada vez que a língua é atualizada em discurso, há uma nova experiência de significação instaurada na linguagem. Nessa perspectiva, o trabalho procura responder à seguinte questão: Como estudar o texto a partir de uma concepção enunciativa de linguagem? Concebe-se que, na base da conversão da língua em discurso, está o fato de que se vive em um mundo falante e escrevente, em que o homem se constitui como tal na e pela linguagem na relação com outros. Pensar o modo como o homem – por nascer na cultura (BENVENISTE, 1966/1995; 1974/1989) – historiciza-se na linguagem, é considerar que, a cada ato de enunciação (de escrita, de leitura, de oralidade e de escuta), o falante, ao se deparar com a conversão da língua em discurso, instancia um acontecimento diferente e novo para fazer a passagem a sujeito. Por isso, um texto, sob o viés enunciativo, é o discurso resultante do ato individual de apropriação da língua por um locutor, que, ao se declarar como sujeito, implanta o outro diante de si. Nessa perspectiva, o estudo enunciativo de um texto privilegia a relação do produtor com o seu discurso – o fato de ter se enunciado de determinado modo – e os efeitos de sentidos constituídos na interlocução pela verificação do modo como as formas se diversificam e se engendram no fio discursivo. Em uma análise enunciativa, atenta-se para os seguintes fenômenos: a) o ato, que comporta o modo como o locutor se declara como sujeito e como implanta o outro (o interlocutor) diante de si; b) a situação de discurso, que está relacionada ao modo como a língua se acha empregada para o locutor constituir a referência discursiva e c) os mecanismos linguísticos utilizados (formas, procedimentos e funções), que atestam a posição do locutor no discurso. Nessa linha, o estudo proposto situa-se nesta dimensão historicizante do homem na linguagem para refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, por meio de textos, como um lugar singular relacionado à história de enunciações do aluno, já que pensar a língua em si e por ela mesma é excluir o humano e o histórico.

Palavras-chave: texto; enunciação; linguagem; ensino.  

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